Ex-presidente solicita passaporte de volta com alegação de mediação com o presidente dos EUA, mas integrantes do Supremo veem risco de exílio político.
Jair Bolsonaro se colocou publicamente como negociador em uma possível mediação entre o Brasil e os Estados Unidos. Em postagens em suas redes sociais, o ex-presidente compartilhou um trecho de vídeo do Jornal Nacional que revela uma negociação feita com o então presidente Donald Trump, em 2019, com o objetivo de evitar a sobretaxa de aço e alumínio importados do Brasil.
Agora, após o anúncio de Trump sobre a imposição de uma tarifa de 50% em retaliação ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva e ao Supremo Tribunal Federal (STF), Bolsonaro voltou a se apresentar como um possível interlocutor, solicitando a devolução de seu passaporte. Segundo o ex-presidente, a intenção seria viajar aos Estados Unidos para discutir questões com o mandatário norte-americano.

No entanto, membros do STF demonstram ceticismo quanto às reais intenções de Bolsonaro. Integrantes da Corte acreditam que a solicitação do ex-presidente não seria apenas uma tentativa de mediar o conflito com os EUA, mas sim uma estratégia para se estabelecer nos Estados Unidos, na condição de exilado político. A recente declaração de Trump, de que haveria uma “caça às bruxas” no Brasil, teria gerado especulações sobre a possibilidade de o ex-presidente receber apoio político para permanecer no país.
Outro fator que complica o cenário é a recente viagem da deputada Carla Zambelli (PL) para a Itália. Embora ministros da Corte afirmem que os dois casos não devem se interligar, a fuga da parlamentar não foi bem recebida pelos magistrados. A ida de Zambelli ao exterior gerou críticas e contribui para o receio de que a devolução do passaporte a Bolsonaro poderia estabelecer um precedente perigoso.
Em meio a esses elementos, os magistrados do STF estão inclinados a manter a retenção do passaporte de Bolsonaro. A análise é que a concessão do pedido abriria brechas para que o STF passasse a aceitar pressões internacionais, uma situação que não é desejável, de acordo com a postura da Corte.
Por enquanto, o STF parece determinado a rejeitar o pedido de Bolsonaro, o que deve manter o ex-presidente sem a possibilidade de viajar para os Estados Unidos, seja por motivos de negociação ou outros interesses pessoais.